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EEL: Estudo de transformações de fase em um aço para aplicações automobilísticas recebe Prêmio da Capes

O prêmio evidencia o potencial de avanços na pesquisa por meio da internacionalização

 

Por Simone Colombo



A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) seleciona há 15 anos as melhores teses de doutorado do país. Em 2020 uma tese desenvolvida na Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais (PPGEM) foi contemplada na área de Engenharia II. Trata-se do trabalho “Transformações de fase em um aço de alto Mn: mecanismos de encruamento, reversão da austenita e transformação martensítica atérmica”. Essa tese foi defendida em 2019 por Isnaldi Rodrigues de Souza Filho, o qual também realizou estágio de pesquisa no Max-Planck-Institut für Eisenforschung (MPIE), Düsseldorf, Alemanha, com apoio da FAPESP. Medidas importantes para a conclusão da tese também foram conduzidas em parceria com o Instituto de Física da USP e com o Laboratório Nacional de Luz Sincrotron (LNLS) em Campinas.

 

O material investigado pertence à classe dos aços com altos teores de manganês (Mn), os quais podem ser utilizados para a confecção de peças automotivas que requerem elevadas propriedades mecânicas e baixo peso ao mesmo tempo. O uso desses aços em automóveis implica na redução da massa do veículo, promovendo a diminuição do consumo de combustível e, como consequência, a diminuição de emissão de poluentes. Ao mesmo tempo, a segurança dos passageiros é mantida graças às elevadas propriedades mecânicas desses materiais. Outras aplicações importantes para essa classe de aços são encontradas no setor de mineração, construção civil e de equipamentos pesados onde a resistência ao desgaste é importante. Aços com alto teor de Mn também podem ser utilizados em condições criogênicas.

 

A importância das colaborações nacionais e da internacionalização

 

O prêmio evidencia que o estabelecimento de colaborações (nacionais e internacionais) impulsiona o desenvolvimento de pesquisas. Isnaldi Souza Filho diz que teve o privilégio de discutir os resultados de suas pesquisas com cientistas renomados na área de engenharia de materiais de várias partes do mundo.  Para ele, o prêmio é fruto de esforço, dedicação e determinação. “Desde a época da minha graduação, aproveitei a oportunidade de realizar pesquisas científicas no exterior (Argentina e Portugal), além da graduação sanduíche em Portugal. Não diferente no mestrado, realizei análises de microscopia no Karlshurer Institut für Technologie, Karlsruhe, Alemanha. Por fim, fiz meu doutorado na modalidade sanduíche no MPIE - Düsseldorf.” A boa sinergia entre os membros de um grupo de pesquisa é importante. “Isso eu tive no grupo da Profa. Maria José Ramos Sandim (orientadora) da EEL e também com meus colegas do MPIE”. Destaca.Tese Premiada 2020

 

Isnaldi Souza Filho conta que o aço investigado em seu Doutorado foi gentilmente cedido pelo Prof. Dagoberto Brandão Santos, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, da UFMG. Os experimentos preliminares do trabalho como a investigação microestrutural, tratamentos térmicos e medidas de dilatometia foram realizados na EEL-USP. No MPIE foram realizadas as medidas de microscopia de alta resolução, medidas de APT (atom probe tomography) e simulações termodinâmicas e cinéticas. Também foram realizados experimentos no Laboratório Nacional de Luz Sincrotron (LNLS) combinando ensaios mecânicos com medidas in-situ de difração de raios X (utilizando a radiação sincrotron). As medidas de magnetização foram realizadas no IF-USP.

 

O apoio dos familiares foi fundamental diz Isnaldi Souza Filho: “Essa premiação coroa, como um todo, uma série de ‘pequenas’ vitórias ao longo do desenvolvimento do meu trabalho. Não posso deixar, aqui, de agradecer meus familiares que sempre estiveram no ‘backstage’.

 

Para a orientadora da pesquisa, Profa. Maria José Ramos Sandim, do Departamento de Engenharia de Materiais da EEL, esse prêmio de magnitude nacional representa o reconhecimento de que trabalhos de elevada qualidade científica podem ser desenvolvidos na EEL-USP. Ela conta que, incluindo-se menções honrosas, o PPGEM é o programa de Pós-Graduação da EEL que mais recebeu este tipo de premiação, confirmando junto à comunidade acadêmica brasileira, em especial na área de Engenharias II, a inegável vocação desse programa para a pesquisa interdisciplinar de alto nível e a internacionalização.

 

A docente ressalta que o estabelecimento de colaborações científicas com outras instituições no Brasil e no exterior tem sido essencial para o desenvolvimento do trabalho do grupo de pesquisa onde ela atua, o qual é constituído por ela, pelo Prof. Hugo Sandim e, mais recentemente, pelo Prof. Kahl ZilnykITA (esse último é egresso do PPGEM e é portador da Menção Honrosa do Prêmio Capes de Tese na edição 2016). Entretanto, não se pode esquecer que “o diuturno trabalho de “construir pontes” com essas Instituições começou aqui, com o nosso grupo de pesquisa, no Departamento de Engenharia de Materiais da EEL-USP”, destaca.

 

Dentre as diversas colaborações estabelecidas ao longo dos últimos 20 anos, a Profa. Maria José Sandim cita de forma bastante especial a colaboração com o Prof. Dierk Raabe (MPIE-Alemanha) na caracterização microestrutural avançada de materiais, iniciada com o Prof. Hugo Sandim em 2003, permitindo aos alunos de seu grupo o acesso a equipamentos sofisticados, muitos deles inexistentes no país. Na área de caracterização magnética, uma colaboração teve início em 2010 com o Prof. Antonio D. Santos (IF-USP) e, mais recentemente, com o Prof. Luiz Nagamine (IF-USP). “Essas duas colaborações contribuíram de forma mais direta para a conquista deste Prêmio”, relata.

 

A professora da EEL destaca que o Dr. Isnaldi Rodrigues de Souza Filho, enquanto aluno de graduação e de pós-graduação desenvolveu o seu trabalho com brilhantismo, superou obstáculos e foi muito além do que foi planejando inicialmente. Ela lembra: “Ele formou-se como primeiro aluno de sua turma de Engenharia de Materiais (EEL-USP) em 2013. Ganhou o Prêmio CAPES de Teses em sua versão 2020. Mostrou seu valor e hoje é pós-doutor junto ao MPIE, um dos maiores centros de investigação científica do mundo na área de metalurgia física. Que a trajetória dele sirva de inspiração aos discentes do PPGEM e de toda a EEL-USP.”

 

Atualmente o Dr. Isnaldi Rodrigues de Souza Filho é líder de projeto no Max-Planck-Institut für Eisenforschung em Düsseldorf e tem se dedicado à área de metalurgia sustentável e produção ‘verde’ (com baixíssimas emissões de CO2) de metais.

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Foto: Dr. Isnaldi Rodrigues de Souza Filho e a Profa. Maria José Ramos Sandim (orientadora) da EEL. Acervo pessoal do entrevistado.