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EEL: As mulheres avançam na área de Engenharia. Na graduação elas já são 42% do corpo discente

Nos cursos de graduação em Engenharia da EEL elas já são 42% do corpo discente

 

Por Simone Colombo

 

“Quando garoto, há mais de 60 anos, para a maioria dos pais (homens e mulheres) por uma questão cultural, e, portanto, utilitarista, as filhas tinham que aprender as chamadas prendas do lar (prendas femininas): lavar, passar, cozinhar, cuidar dos filhos etc. Afinal eram preparadas para se tornarem esposas e mães exemplares, nada mais que isto. Estudo era considerado um luxo desnecessário para a vida da mulher” lembra o Professor Humberto Felipe da Silva, Doutor em História Econômica docente da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP. Ele continua “Quando entrei na faculdade foi um período de grande avanço na educação, pois na década de 1970, houve uma grande expansão do ensino superior abrindo espaço para que mais mulheres tivesse acesso a este nível de ensino. Foi neste período que cresceu a participação feminina no ensino superior”.  Naquela época as mulheres buscavam mais a área de humanas, saúde, estética, educação e os homens a de exatas.

 

No decorrer dos anos as mulheres foram conquistando seu espaço no mercado de trabalho e avançando para outras especialidades. A engenharia, até pouco tempo, era uma área pouco procurada pelas mulheres e dominada pelos homens. No entanto, esse quadro pode estar mudando. É o que refletem os dados de gênero da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP.

 

Atualmente as mulheres matriculadas em cursos da graduação em Engenharia já representam 41,9% do corpo discente da Unidade e 53,7% do corpo de alunos de Pós-Graduação. Na graduação as mulheres já são maioria nos cursos de Engenharia Bioquímica, representando 59,46% e de Engenharia Ambiental, 51,71% dos matriculados. Contudo, o número da participação feminina cai entre os cursos de Engenharia Química com 43,20%, Engenharia de Produção com 36,19 %, Engenharia de Materiais com 33,89% e Engenharia Física com apenas 21,05% de mulheres matriculadas.

 

Curiosamente, mas não por acaso, é no Programa de Pós-Graduação do Ensino de Ciências da EEL, voltado para docentes de todas as esferas de ensino, onde as mulheres aparecem em números bem superiores, sendo 74,6% dos matriculados. Isso provavelmente seja uma reverberação do passado devido ao fato de que o universo do magistrado do ensino médio e básico seja ainda formado majoritariamente por mulheres.

 

Outro curso de Pós-Graduação, onde as mulheres também são maioria é no Programa Biotecnologia Industrial, com 57,1% de alunos pertencentes ao gênero feminino.  A Pós em Engenharia Química tem 47% de alunas e a Pós em Engenharia de Materiais, um público feminino menor, de 31,6%.

 

O Professor Humberto Felipe atribui a esses dados uma questão cultural ainda intrínseca na sociedade. “Creio que este fato ainda esteja vinculado à cultura chauvinista masculina. Ainda hoje, por incrível que pareça, existem nichos mais adequados às mulheres, uma reserva de mercado. Alguns cursos são mais típicos para homens, outros para mulheres e outros mistos. Biologia, desde muito tempo é uma área de trânsito mais fácil para as mulheres do que, por exemplo, a mecânica, um curso bem masculino”.

 

Já o corpo de servidores da Unidade ainda reflete a dominância masculina no mercado de trabalho. O corpo técnico tem 28,7% de mulheres e o corpo docente 38,7%.

 

Aluna na Biblioteca

Apesar disso, no que se refere à gestão, o público feminino avançou na EEL. Mesmo estando em menor número e sem programas especiais voltados ao publico feminino, hoje, 50% das Comissões Estatutárias e das chefias de Departamentos são presididas por mulheres. De acordo com o Doutor em História Econômica, Prof. Humberto Felipe, é interessante observar que em outras escolas de engenharia a situação é ainda mais desfavorável às mulheres, seja em número de docentes, seja em termos de mulheres em posições de gestão. “Em nossa escola há muito, temos uma participação muito grande de mulheres em posição de liderança. Entretanto, creio que este equilíbrio atual tenha sido resultado do mero acaso. Porém, este “mero acaso” que obedece aos desígnios da importância crescente das docentes na vida acadêmica. Uma importância conquistada pela competência e capacidade de mobilização de nossas docentes”.   

 

Os dados de gênero da EEL/USP foram apresentados pelo Diretor da Unidade, Prof. Dr. Silvio Silvério da Silva no dia 28 de junho a convite do escritório USP Mulheres no seminário “Promovendo o sucesso das mulheres na engenharia: lutando pela igualdade de gênero”.  O evento é o segundo da série promovido pela rede de pesquisadoras em engenharia no Brasil e na Austrália denominado de “Australia-Brazil Women’s  Research  Engineers  Network (WREN) – Fostering success for women in Engineering: Striving for Gender Equity” e pretende incentivar a inclusão de mulheres na universidade em especial na engenharia. A WREN – sigla em inglês para Rede Feminina de Pesquisa em Engenharia – é uma parceria entre a USP e a Universidade de Wollongong. Participaram do encontro a Profa. Dra. Maria Arminda do Nascimento Arruda (Professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e Coordenadora do Escritório USP Mulheres); Dr. Mark Freeman (Conferencista Sênior e Diretor Associado para Equidade, Diversidade e Inclusão na Faculty of Engineering and Information Science – UOW) e os dirigentes das unidades de engenharia da USP sendo eles: Prof. Dr. Silvio Silvério da Silva (Professor titular e Diretor da Escola de Engenharia de Lorena – USP); Prof. Dr. Edson Cezar Wendland (Professor titular e Diretor da Escola de Engenharia de São Carlos – USP) e a Profa. Dra. Liedi Légi Bariani Bernucci (Professora titular e Diretora da Escola Politécnica – USP).

 

Professora Heizir
      Profa. Heizir F Castro.

Na ocasião o Diretor da EEL Prof. Silvio Silvério, falou sobre as ações de inclusão, conscientização e empoderamento feminino promovidas pelo Coletivo Feminista da EEL “Enendina Marques”.

 

O trabalho de pesquisadoras da Unidade com destaque no Universo Científico também foi salientado, em especial, o da Prof.ª Dr.ª Heizir Ferreira de Castro, falecida recentemente, e que foi, sem sombra de dúvida uma das principais lideranças femininas da casa a inspirar muitas de suas alunas que hoje, não por acaso, são docentes da Unidade.

 

O professor Humberto Felipe pondera “A inclusão da mulher demanda mudanças culturais profundas, mesmo em tempos de busca por igualdade social. Por mais que tenhamos evoluído neste ‘mister’ nossa sociedade ainda é muito machista”. Para ele, seria interessante iniciar uma política de cotas para mulheres na Iniciação Científica (IC) para estimular o perfil investigativo feminino.  Outro local em que o docente gostaria de ver maior participação feminina na academia seria em bancas de concurso onde o público masculino é predominante.  “Quanto à inclusão feminina nos cursos seria muito produtivo que nossas docentes promovessem palestras para alunas em fase de escolha de cursos. Hoje com a possibilidade de palestras virtuais o alcance é maior”. Estas palestras teriam o papel de estimular as jovens a ingressarem nos cursos da EEL, mostrando pelo exemplo. Ex-alunas bem-sucedidas em suas carreiras poderiam ter destaque, mostrando que é possível que uma mulher assuma postos de comando em grandes empresas. Por fim, é preciso desenvolver uma política de acolhimento e auxílio às mulheres alunas a fim de que elas sintam-se amparadas e inseridas igualitariamente no meio acadêmico e consequentemente no mercado de trabalho.

 

A EEL pretende estudar formas mais pontuais para inclusão. “A Direção da EEL tem um compromisso com a diversidade e a inclusão social feminina em todas as esferas. É questão de honra ampliar a participação feminina e a diversidade em todas as instâncias da Escola. Promover a diversidade é contribuir para um mundo mais justo e equânime e para a paz mundial.” salienta o Diretor da Unidade, Professor Silvio Silverio.

 

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Abaixo apresentação com números de Mulheres na EEL no encontro: Promovendo o sucesso das mulheres na engenharia: lutando pela igualdade de gênero”