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Adubo orgânico: a sustentabilidade que vem do lixo

Por Simone Colombo

 

A geração de resíduos orgânicos no lixo domiciliar é um fato comum do nosso cotidiano. Dados do  Ministério do Meio Ambiente apontam que 50% de todos os resíduos produzidos na zona urbana é orgânico, ou seja, são de origem biológica como descartes de restos ou cascas de frutas e vegetais.

 

No entanto, apenas 1 % desse montante é reaproveitado no Brasil. Os demais, são depositados em aterros e lixões que, em decomposição, geram gases tóxicos e poluem o ambiente, revela dados da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.

 

Mas, na Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, o grupo “Compostagem Itinerante” viu potencial em todo esse material orgânico, que, se trabalhado corretamente, pode ajudar o meio ambiente, promover uma  alimentação saudável e, de quebra, se transformar em um bom negócio, ou seja, uma fonte de renda.  A ideia partiu dos professores Rita de C.L.B. Rodrigues e Durval Rodrigues Junior e do aluno de pós-graduação Álvaro Henrique Mello José que apostam em converter esse resíduo, por meio da compostagem, em adubo orgânico, uma espécie de biofertilizante que pode ser obtido nas formas líquida (Chorume) ou sólida (húmus). Ambos sem conservantes e sem aditivos químicos.  O foco do grupo é difundir na comunidade local a prática da compostagem doméstica como uma forma de empreendedorismo sustentável e de inovação. 

 

Grupo "Compostagem Itinerante EEL/USP"
“Compostagem Itinerante – EEL/USP”

Tudo começou em 2018, com o projeto intitulado “Compostagem vai à escola para incentivar a interdisciplinaridade e promover as práticas ecológicas e empreendedorismo sustentável” no primeiro edital do Programa Aprender na Comunidade da Pró-Reitoria de Graduação da USP, conta a Profa. Rita Rodrigues. O programa visava contribuir para o desenvolvimento de estratégias de ensino e de aprendizagem que incentivem a participação ativa dos alunos de engenharia na criação de projetos que envolvessem a comunidade. Sendo assim, alguns alunos da Graduação da EEL/USP passaram por uma capacitação.  Eles foram incentivados a buscar informações de cunho interdisciplinar para poder transmitir conhecimento para estudantes do ensino fundamental em escolas da região para que estes estejam aptos para construir uma composteira e possam extrair dela uma fonte de renda.  Os universitários então desenvolveram um kit didático, incluindo uma composteira doméstica de simples confecção, produzida a partir de materiais de fácil acesso,  palestras em powerpoint, banners, cartilhas sobre compostagem e outros. 

 

O grupo “Compostagem Itinerante – EEL/USP” tem a participação de alunos dos Programas de Pós-graduação de Biotecnologia Industrial (PPGBI), Projetos Educacionais de Ciências (PPGPE) da EEL-USP e do Programa de Pós-graduação da FEA/USP: Álvaro Henrique Mello José, Lidiane de Melo Souza Moura, Ana Carolina da Silva Antunes Carvalho e Daniel Faria Chaim. Estes alunos também são professores no ensino fundamental e médio na região. Também participaram do treinamento: Douglas Eduardo de Oliveira, Fernanda Rodrigues Moreira, Vitória de Oliveira Vinhas, Ane Elisa Silva Bicudo todos do curso de Engenharia Ambiental da EEL, Tamires Saldanha de Souza (Engenharia Bioquímica) e Nicolas Brambilla Rodrigues (Estudante do Ensino médio).

 

No dia 19 de julho houve a primeira oficina do grupo com o nome de “Compostagem Itinerante ensina minhocultura”. Ela aconteceu durante o evento “Férias no Museu Interativo de Ciências” da Prefeitura de São José dos Campos, Secretaria de Educação e Cidadania, Departamento de Educação Básica. Na ocasião, um grupo de 20 crianças aprenderam como confeccionar e manejar um minhocário a fim de aprimorar a produção de húmus e biofertilizante, tanto para consumo próprio, como para venda. O convite foi realizado pela Profa. Thais Campos de Oliveira Freitas da comissão organizadora do evento e também mestranda no Programa de Pós-Graduação em Projetos Educacionais de Ciências (PPGPE) da EEL/USP.  

 

A alimentação saudável, sem interferência de produtos químicos, também é difundida pelo grupo. Durante o curso foi apresentado aos participantes, conhecimentos para o cultivo de flores comestíveis, cultivadas com fertilizantes orgânicos. “Fechando-se o ciclo de economia sustentável” Diz a professora Rita. Os participantes da oficina degustaram uma “Torta Jardim Espelhada” preparada por ela com as flores comestíveis: amor-perfeito, tagetes e capuchinhas provenientes de plantio orgânico.

 

A relação entre empreendedorismo e desenvolvimento sustentável tem recebido atenção considerável de acadêmicos e formuladores de políticas públicas, à medida que a sociedade busca soluções que levem à sustentabilidade. Para os estudantes de engenharia esse projeto trás inúmeros benefícios, “A abordagem da sustentabilidade é interdisciplinar e envolve desde os negócios até a tecnologia, o meio ambiente e as ciências sociais. Habilidades em sustentabilidade e conscientização ambiental são uma prioridade em muitos empregos corporativos, à medida que as empresas procuram aderir à nova legislação”. Revela a Professora.

 

1ª aula prática - Compostagem Itinerante EEL USP. Foto: Arquivo do grupo
Aula de compostagem SJC

A abordagem desse tema junto à comunidade pode também abrir o caminho para enfoques sustentáveis e promoção de atitudes que visem à preservação dos recursos naturais na região. “A conscientização pode ser obtida por meio das práticas ecológicas ou sustentáveis que visam o diálogo e discussão em tópicos específicos como: reciclo, uso de lâmpadas fluorescentes, ato de fechar a tampa da panela, faça Home Office, utilizar transporte coletivo, fazer compostagem, diminuir o consumo de energia, fazer revisão regular em seu carro etc.” Conta a Professora Rita.

 

De acordo com a idealizadora do projeto, esse trabalho também se dispõe a apoiar e auxiliar, na medida do possível, o município de Lorena no cumprimento de sua meta de reciclagem dos resíduos orgânicos, que foi estabelecida para fins de cumprimento de objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos.   Além de ensinar a comunidade a realizar a compostagem em casa, reduzindo o volume de resíduos orgânicos gerados em domicilio, o grupo irá considerar atuar junto a dois grandes geradores destes resíduos, como os restaurantes e feiras.   Além disso, o grupo também avalia a possibilidade de trabalhar com compostagem dos resíduos verdes, aqueles originados das atividades de capina e poda da limpeza pública o que poderá reduzir ainda mais a geração de resíduo orgânico no município.

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Confira a agenda do grupo “Compostagem Itinerante EEL/USP” para o mês de novembro:

01/11 - o grupo  estará apresentando os módulos alimentação saudável e Compostagem e Empreendedorismo na escola E.E.E.I. “Severino Moreira Barbosa em Cachoeira Paulista – SP. A ideia é produzir o adubo orgânico para a escola, trocar por mudas e comercializar. Na primeira semana reduziram o lixo de 12 sacos para 3 com reaproveitamento de 75% para a compostagem.

03/11 - o encontro será em um asilo de idosos de Lorena-SP, o grupo Compostagem Itinerante EEL/USP iniciará a implantação de um compostor neste local.

30/11 - Desta vez  crianças e adolescentes que são assistidas pelo Projeto Criança Feliz da EEL/USP irão aprender a realizar a montagem de um composteira doméstica usando minhocas.